A saúde cognitiva está relacionada à preservação das funções mentais que sustentam a autonomia e a qualidade de vida durante o envelhecimento 1. Para manter a saúde cognitiva ao longo da vida, alguns aspectos merecem atenção especial e a literatura sugere alguns cuidados adicionais que repercutem diretamente no funcionamento cognitivo e no entendimento de alguns transtornos que podem ocorrer durante o ciclo vital.

1. Monitoramento da saúde mental

Cuidar da saúde mental e reconhecer precocemente sinais de sofrimento psíquico pode contribuir para a proteção das funções cognitivas ao longo da vida. A depressão, por exemplo, tem sido identificada como um importante fator de risco para o desenvolvimento de demência 2. Um estudo recente 3 apontou que pessoas que apresentaram melhora consistente nos sintomas depressivos, após tratamento psicológico tiveram uma redução de cerca de 12% no risco de diagnóstico de demência, em comparação com aquelas que não mostraram a mesma evolução. Esses achados reforçam a relevância de intervenções voltadas ao bem-estar psicológico, como o acompanhamento psicoterápico, que podem atuar não apenas no alívio do sofrimento emocional, mas também na promoção de um envelhecimento mais saudável.

2. Estimulação cognitiva

A estimulação cognitiva está relacionada a atividades que desafiem o cérebro, como leitura, jogos de raciocínio, aprendizagem de novas habilidades ou o uso de programas estruturados de treino cognitivo. Pesquisas 1 indicam que esse tipo de prática pode melhorar o desempenho da memória, atenção, velocidade de processamento, linguagem e funções executivas, tanto em pessoas saudáveis quanto naquelas que apresentam leve comprometimento cognitivo. No dia a dia isso contribui para a resolução de problemas e processamento de informações de maneira mais eficiente.

Essas intervenções parecem ser eficazes porque envolvem exercícios repetitivos e com dificuldade progressiva, capazes de estimular a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do cérebro de criar e fortalecer conexões entre os neurônios. Com o tempo, esse processo pode aumentar a conectividade neural, favorecer a formação de novas vias cerebrais e até estar relacionado a mudanças estruturais, como o aumento do volume do hipocampo 1, região do cérebro associada à memória e ao aprendizado.

3. Engajamento social

Manter relacionamentos próximos e participar de atividades sociais regularmente também contribui para a proteção da saúde cognitiva 4, 5. Um estudo 4 publicado em 2025, por exemplo, indicou que indivíduos idosos com maior engajamento social apresentaram um início mais tardio da demência, com um atraso estimado de cerca de cinco anos em comparação com indivíduos menos ativos socialmente. Por outro lado, a solidão, que se refere à percepção negativa de sentir-se só 6, tem sido associada a um risco aumentado de desenvolvimento de Alzheimer e de outros tipos de demência 5. Esses achados reforçam a importância de fortalecer redes de apoio e promover interação social como estratégias de prevenção do declínio cognitivo.

4. Sono adequado e tratamento de distúrbios do sono

Padrões de sono inadequados estão associados ao envelhecimento cerebral acelerado, um fator de risco para o declínio cognitivo. Um estudo 7 realizado com mais de 27.000 adultos revelou que indivíduos com hábitos de sono saudáveis apresentaram uma "idade cerebral" mais próxima da idade cronológica, enquanto aqueles com padrões de sono prejudicados mostraram um envelhecimento cerebral mais rápido.

Além de dormir por tempo suficiente, a qualidade do sono também é fundamental para a saúde do cérebro. Distúrbios do sono, como a apneia do sono, estão associados a um maior risco de demência e frequentemente aparecem junto a outras condições que também elevam o risco, como diabetes, depressão e consumo excessivo de álcool 2.

5. Atividade física regular

Pessoas fisicamente ativas tendem a apresentar melhor desempenho em funções cognitivas, como memória, atenção e velocidade de processamento, quando comparadas àquelas que levam um estilo de vida mais sedentário. O exercício físico não só fortalece o corpo, mas também protege o cérebro e estimula a mente, sendo considerado uma intervenção não farmacológica viável e acessível para a promoção da saúde cognitiva ao longo da vida 8.

Pesquisas recentes 8, 9 indicam que a prática regular e moderada de exercícios físicos é uma das estratégias mais eficazes para prevenir o declínio cognitivo e promover o bem-estar mental na velhice. Além de melhorar a saúde geral, manter-se ativo ajuda a preservar a integridade da substância branca do cérebro, que está relacionada à comunicação entre diferentes áreas cerebrais. Entre os diferentes tipos de exercício, as atividades aeróbicas se destacam por favorecerem a saúde cardiovascular, o que também traz benefícios diretos ao cérebro 8, 9.

6. Padrões alimentares saudáveis

A alimentação desempenha um papel fundamental na saúde cognitiva, especialmente à medida que envelhecemos. Manter uma dieta equilibrada, rica em alimentos naturais e com baixo consumo de produtos ultraprocessados, contribui para a saúde geral e influencia fatores de risco associados à demência, como obesidade, diabetes e hipertensão 2.

Um exemplo é a dieta mediterrânea, que enfatiza o consumo de frutas, vegetais, grãos, peixes e gorduras saudáveis, como o azeite de oliva. Um estudo 10 publicado em 2025 indicou que a adesão a esse padrão alimentar está associada a uma redução de 11% a 30% no risco de distúrbios cognitivos relacionados à idade, incluindo comprometimento cognitivo, demência e doença de Alzheimer. Os resultados indicaram que os participantes que seguiram mais de perto a dieta mediterrânea apresentaram menor risco de comprometimento cognitivo, demência e Alzheimer.

7. Controle de fatores vasculares e metabólicos

Estudos recentes 2 indicam que o controle de fatores vasculares e metabólicos desempenha um papel importante na diminuição do risco de demência. A hipertensão, o diabetes, o tabagismo e a obesidade são fatores de risco modificáveis que, quando gerenciados adequadamente, podem diminuir significativamente a probabilidade de desenvolvimento de doenças cognitivas.

Frente a todas as informações aqui apresentadas, adotar um estilo de vida saudável, que inclua a gestão adequada da pressão arterial, do controle do peso, da manutenção de níveis normais de glicose, e da abstinência do tabaco, é fundamental para a preservação da saúde cognitiva. A implementação de pequenas mudanças no dia a dia pode ajudar a cuidar da sua mente e do seu corpo, protegendo as funções cognitivas e promovendo um envelhecimento mais saudável.

Referências

1. Forte G, Favieri F, Corbo I, et al. Evaluating the effectiveness of cognitive interventions for healthy and mild cognitive impairment adults: a comprehensive umbrella meta‐analysis. J Aging Res. 2025;2025(1):4397025.

2. Livingston G, Huntley J, Liu KY, et al. Dementia prevention, intervention, and care: 2024 report of the Lancet standing Commission. Lancet. 2024;404(10452):572-628.

3. John A, Saunders R, Desai R, et al. Associations between psychological therapy outcomes for depression and incidence of dementia. Psychol Med. 2023;53(11):4869-4879.

4. Qiao L, Wang G, Tang Z, et al. Association between loneliness and dementia risk: a systematic review and meta-analysis of cohort studies. Front Hum Neurosci. 2022;16:899814.

5. Chen Y, Grodstein F, Capuano AW, et al. Late‐life social activity and subsequent risk of dementia and mild cognitive impairment. Alzheimers Dement. 2025;21(1):e14316.

6. Cacioppo S, Capitanio JP, Cacioppo JT. Toward a neurology of loneliness. Psychol Bull. 2014;140(6):1464.

7. Miao Y, Wang J, Li X, et al. Poor sleep health is associated with older brain age: the role of systemic inflammation. EBioMedicine. 2025;105941.

8. Zhang W, Zhou C, Chen A. A systematic review and meta-analysis of the effects of physical exercise on white matter integrity and cognitive function in older adults. GeroScience. 2024;46(2):2641–2651.

9. Silva NCBS, Barha CK, Erickson KI, et al. Physical exercise, cognition, and brain health in aging. Trends Neurosci. 2024;47(6):402-417.

10. Fekete M, Varga P, Ungvari Z, et al. The role of the Mediterranean diet in reducing the risk of cognitive impairment, dementia, and Alzheimer's disease: a meta-analysis. GeroScience. 2025;1-20.

Sobre as Autoras

Dra. Ilana Andretta

Psicóloga e Professora do Curso de Psicologia, Escola de Saúde, Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos.

Rafaela Petry Justo

Graduanda em Psicologia, Escola de Saúde, Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos.