Estilo de Vida e Bem-Estar
Obesidade: causas, consequências e caminhos para a prevenção
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS)1, obesidade é uma doença crônica, caracterizada pelo excesso de gordura corporal, que pode causar prejuízos à saúde.
Segundo o Atlas Mundial da Obesidade2 2025, a prevalência e a incidência da obesidade irão aumentar na próxima década. Segundo dados da pesquisa, cerca de 31% da população brasileira possui tal doença.
O aumento da obesidade também está ocorrendo nas crianças, que estão cada vez mais acima do peso esperado para a idade. É um problema que causa impacto na saúde das populações e precisa de um olhar atento e contínuo.
Devido a todo esse contexto, The Lancet3 (2005) publicou um artigo que propôs novas diretrizes para o diagnóstico de obesidade. Além do IMC (índice de massa corporal) maior ou igual a 30 kg/m², foi sugerido que a circunferência abdominal, a razão cintura-quadril ou a relação cintura-altura, sejam também avaliadas. A partir disso, também se instituíram duas categorias de obesidade: a pré-clínica, na qual existe excesso de gordura corporal, sem disfunção orgânica, mas com risco maior de evolução para doenças crônicas e a obesidade clínica, que se caracteriza como uma doença crônica, que apresenta consequências sistêmicas. Estas acima citadas irão propiciar diagnósticos mais precisos e um cuidado mais individualizado para cada paciente.
É extremamente relevante salientar que a obesidade é uma doença crônica, sistêmica e complexa. Pode provocar complicações importantes, como diabetes tipo 2, patologias cardiovasculares, problemas articulares, distúrbios respiratórios, entre outros. Cabe também ressaltar a possibilidade de impacto na saúde mental, podendo ocasionar transtorno de ansiedade e depressão. Além disso, pode causar intenso sofrimento, devido ao rígido ideal de beleza que diariamente é divulgado pelas mídias como sendo o correto.
É sabido que a gordofobia é uma realidade em nossa sociedade, que valoriza o corpo magro e exige um padrão estético inatingível para a maioria das pessoas. Diariamente é possível constatar concretamente a exclusão social vivida pelas pessoas obesas, sendo de maneira concreta, na falta de poltronas adequadas, ausência de lojas de roupas que contemplem tamanhos grandes e academias de ginástica que realmente sejam receptivas. De forma subjetiva, a exclusão dessas pessoas acontece a partir do preconceito nos olhares, nos comentários desqualificantes e nas atitudes desrespeitosas. Algumas pessoas não conseguem ver além da imagem corporal, esquecem que existe um sujeito que habita aquele corpo e que percorreu uma história, muitas vezes repleta de angústias e privações.
Ao fazer uma retrospectiva, é possível averiguar que até o século XIX, a gordura era sinal de beleza e status social, já que simbolizava riqueza. Porém, esse conceito foi se modificando e atualmente, vivemos os tempos da busca pela magreza, muitas vezes, a qualquer custo.
Assim, a procura pelo emagrecimento pode tornar-se uma meta maior do que o bem-estar, provocando o uso de medicações de maneira equivocada e, colocando a saúde em risco. A ideia de remédios emagrecedores deve ser descontruída, já que estes possuem indicações precisas para o tratamento de algumas patologias e não devem ser usados para satisfazerem a um padrão estético social.
Os análogos de GLP-1 (medicamentos que estimulam a secreção de insulina e aumentam a saciedade), que atualmente têm estado em evidência, quando utilizados com indicação, são extremamente úteis no tratamento de pacientes com diabete tipo 2. Porém, o que está acontecendo, é o seu uso com o intuito de emagrecer, sendo popularmente conhecidos como as "canetas emagrecedoras", termo não reconhecido pelos médicos especialistas.
É preciso ter muito cuidado, já que esse cenário pode intensificar alguns transtornos alimentares, devido à busca excessiva por perda de peso, além de provocar sintomas físicos extremante desconfortáveis e alterações clínicas graves. A obesidade é um problema de saúde pública. Sendo assim, é extremamente relevante que medidas sejam tomadas no intuito de preveni-la e tratá-la de maneira adequada, evitando o aumento de casos e propiciando uma melhor qualidade de vida.
É notório que a obesidade é uma patologia multifatorial, com questões genéticas, ambientais, metabólicas, alimentares, comportamentais, e que deve ser analisada em vários aspectos, inclusive considerando os componentes psíquicos, para a boa evolução do tratamento.
A alimentação é uma maneira de relação com o ambiente e mostra muitos aspectos do funcionamento do indivíduo. Por vezes, a comida pode servir como anestesia de angústias, companhia ou preenchimento da sensação de vazio.
O tratamento psicoterápico é fundamental para a boa evolução do caso e para o entendimento dos fatores intrínsecos da instalação da patologia, já que auxilia a compreensão das emoções. Além disso, o acompanhamento com nutricionista, é importante para orientações no plano alimentar.
Infelizmente, muitas pessoas não têm acesso a um tratamento especializado, o que reforça ainda mais a necessidade de prevenção. É fundamental que campanhas governamentais sejam realizadas com o objetivo de enaltecer a importância de uma alimentação balanceada, da prática de exercícios físicos e da presença da família, quando possível, nos momentos das refeições.
Além disso, fazem-se necessárias políticas públicas para propiciar um maior acesso a alimentos in natura, como frutas, verduras, legumes, ovos, carnes e peixes; e para dificultar o consumo de produtos ultraprocessados, como, por exemplo, salsichas, biscoitos recheados e salgadinhos.
A prevenção é sempre o melhor caminho.
Obesidade não é uma escolha!
Referências
1. World Health Organization. Obesity and overweight. Fact sheet. Geneva: World Health Organization; Mai 2025. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/obesity-and-overweight
2. Word Obesity Federation. Word Obesity Atlas 2025. Londres: Word Obesity Federation, 2025.
3. Redefining obesity: advancing care for better lives. Lancet Diabetes Endocrinol. 2025;13(2):75.