Saúde e Gênero
Você sabe o que cada letra da sigla LGBTQIAPN+ significa?
A forma como a população LGBTQIAPN+ se identifica é muito importante para garantir uma comunicação clara, o respeito e o reconhecimento de todas as pessoas. Para entender essas identidades, é importante saber que o gênero, ou seja, a forma como cada pessoa se vê e se sente, não é algo fixo ou definido apenas pelo corpo, mas, sim, algo que cada pessoa constrói ao longo da vida, influenciada pela cultura, pela sociedade e pelas experiências pessoais. Torna-se oportuna, aqui, uma adaptação de Simone de Beauvoir: ninguém nasce de determinado gênero: torna-se de tal gênero1,3,6.
Outros conceitos importantes são: (i) expressão de gênero, que se trata do jeito como a pessoa se veste, fala, se comporta e se mostra para o mundo; e (ii) o papel sexual de gênero, que se trata do que a sociedade espera que a pessoa faça ou como se comporte, com base em sua identidade3,6.
A sigla LGBTQIAPN+ abrange diversas identidades. Mas o que está por trás de cada letra?
Antes de falarmos sobre cada letra da sigla, é importante abordarmos dois conceitos básicos: orientação afetivo-sexual, que é por quem a pessoa sente atração (afetiva ou sexual), e identidade de gênero, que é como a pessoa se reconhece e se sente em relação ao seu próprio gênero, tanto de forma pessoal quanto social6.
Sabendo disso, conseguimos compreender melhor a sigla LGBTQIAPN+. Algumas letras representam orientações afetivo-sexuais, como L (lésbicas), G (gays), B (bissexuais), A (assexuais) e P (pansexuais). Já outras letras indicam identidades de gênero, como T (transgêneros), Q (queer), I (intersexo) e N (não-binárie)6,8.
Confira, abaixo, o que significa cada letra, assim como a bandeira de cada grupo identitário:
(L) Lésbicas - mulheres que se relacionam com mulheres.
(G) Gays - homens que se relacionam com homens.
(B) Bissexuais - pessoas que se relacionam com homens e com mulheres.
(T) Transgêneros – Travestis (pessoa que nasceu com sexo biológico designado ao gênero masculino, mas que se identifica enquanto travesti, uma identidade feminina) e Transexuais (homem ou mulher que não se identifica com o sexo biológico).
(Q) Queer - termo inglês que pode ser usado por qualquer pessoa da comunidade LGBTQIAPN+ e/ou indivíduos que não se encaixam nos rótulos e padrões existentes.
(I) Intersexo - indivíduos que apresentam diferenças no desenvolvimento do sexo (DDS), como uma pessoa com variação na genitália ou uma pessoa com gônada feminina (ovário) e genitália masculina (pênis). Por curiosidade, existem mais de 40 tipos de estado intersexo.
(A) Assexuais - orientação afetivo-sexual de pessoas que podem ou não ter atração ou desejo sexual por outra pessoa. Dentro da assexualidade, existe a demissexualidade, em que a pessoa só se relaciona de forma afetiva e/ou sexual com outras pessoas por quem desenvolvem algum sentimento.
(P) Pansexuais - pessoas que se atraem por pessoas, independentemente de quem seja.
(N) Não Bináries - pessoas que não se identificam com um gênero específico, podendo aderir a pronomes femininos, masculinos e/ou neutros, conforme a sua identificação.
Você sabe como surgiu todo esse movimento de resistência e luta?
Quando falamos sobre a história e o movimento LGBTQIAPN+, um dos marcos mais importantes aconteceu em Nova York, em 28 de junho de 1969: a Revolta de Stonewall. Na época, o Stonewall Inn era um dos poucos bares voltados para o público LGBTQIAPN+, mas também alvo frequente de batidas policiais violentas. Cansados da perseguição e da violência, os frequentadores decidiram resistir à invasão da polícia naquela noite. Esse ato de coragem deu início a uma onda de mobilização em vários países e marcou a data que hoje conhecemos como o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+. A revolta teve como símbolos de resistência duas figuras centrais: Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera, mulheres trans que se tornaram vozes fundamentais na luta por direitos e dignidade4,7.
No Brasil, foi apenas em 1978, com o fim da ditadura militar, que os movimentos sociais e democráticos começaram a se reorganizar. Entre eles, surgiu o jornal Lampião da Esquina, feito por e para a comunidade homossexual. A partir dele nasceram grupos importantes como o Somos – Grupo de Afirmação Homossexual, o Movimento Gay e o Grupo Gay da Bahia, que segue ativo até hoje5.
Com mais de 50 anos de luta e com várias conquistas, a população LGBTQIAPN+ ainda passa por muita perseguição e críticas, muitas vezes por questões culturais ou falta de informações. Segundo o dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o Brasil continua sendo um dos países que mais assassina pessoas trans e travestis no mundo, tendo registrado 122 mortes em 2024. No entanto, como o próprio dossiê já sugere, esse número não representa a gravidade do cenário que encontramos, pois as autoridades no momento do crime tendem a não identificar as vítimas devidamente como casos de atentado a pessoas transexuais ou travestis. Diante dessas e de outras violências sofridas, torna-se cada vez mais urgente fortalecer ações de conscientização, promover políticas públicas inclusivas e ampliar o acesso à informação para que possamos construir uma sociedade mais justa, respeitosa e livre de preconceitos2.
Referências
1. Beauvoir S. O segundo sexo. São Paulo: Nova Fronteira; 1980.
2. Benevides BG. Dossiê: Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras em 2024. Brasília: ANTRA; 2025. 144 p.
3. Brasil. Ministério Público Federal. O Ministério Público e a Igualdade de Direitos para LGBTI: conceitos e legislação. 2. ed. Brasília: Ministério Público Federal; 2017. 83 p.
4. Canabarro R. História e direitos sexuais no Brasil: o movimento LGBT e a discussão sobre a cidadania. In: Congresso Internacional de História Regional; 2013; Passo Fundo. Anais eletrônicos. Passo Fundo; 2013.
5. Carvalho M, Carrara S. Em direção a um futuro trans? Contribuição para a história do movimento de travestis e transexuais no Brasil. Sexualidad, Salud y Sociedad. 2013;(14):319-51.
6. Ciasca SV, Hercowitz A, Lopes Junior A. Definições da sexualidade humana. In: Ciasca SV, Hercowitz A, Lopes Junior A, organizadores. Saúde LGBTQIA+: práticas de cuidado transdisciplinar. São Paulo: Manole; 2021. p. 12-17.
7. Ciasca SV, Pouget F. Aspectos históricos da sexualidade humana e desafios para a despatologização. In: Ciasca SV, Hercowitz A, Lopes Junior A, organizadores. Saúde LGBTQIA+: práticas de cuidado transdisciplinar. São Paulo: Manole; 2021. p. 18-27.
8. Farias ISCJ. Identidades, gênero, sexual e romântica. Rev Latinoam Geogr Gênero. 2018;9(2):377-96.